sexta-feira, 16 de julho de 2010


Depois, durante uns tempos, veio a tristeza. Mas nunca na sala cheia ( cada vez mais cheia) de pessoas com o dossier branco e verde.

Confirmei, durante uns tempos, aquilo que sempre soube: nunca tomar nada como garantido. Nada. Nunca.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Tudo e mais um par de botas

Bem me parecia que hoje era aniversário de alguma coisa importante. Só agora me lembrei do quê.

Há dois anos, armada com um dossier com papeis, entrei numa sala cheia de gente triste e recusei-me a ser mais uma dessas pessoas. Concentrei-me nos papeis e na tarefa que tinha em mãos.
Um passo de cada vez.
Um passo de cada vez.
Não deixei de olhar para as caras tristes mas recusei-me a ser mais uma cara triste. Os papeis estão todos? Há sempre um papel que falta, sempre mais um detalhe. Os papéis e um passo. de. cada. vez. Papéis, montes de papeis, tudo sem um par de botas.

Não faltam papéis. Está tudo em ordem. Aqui tem este dossier. Empregos na sua área é que vai ser complicado.


Só me lembrei agora, daquela sala e do dossier que ainda está algures para ali esquecido ( dossier branco e verde que quase todos naquela sala tinham) , depois de um dia com tudo para fazer e em que muito foi feito. Tudo e mais um par de botas.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

fantástico...

Via Facebook reencontro colegas de faculdade que não vejo há muitos anos. Dão a conhecer vidas fantásticas ( nas palavras deles e delas, mais delas) de viagens, férias, almoços no Chiado e compras em Paris.

Utilizam muitas vezes reticencias : " Almoço aqui.... ", Férias acolá...." - sempre num sítio "fantástico", sempre com reticencias, como se fosse uma maçada. Quem me conhece sabe que "fantástico", utilizado por tudo e por nada ,causa-me urticária.As reticencias causam-me "espécie".


Já eu poderia dar a conhecer a minha vida "fantástica" com episódios muito menos "fantásticos":

- Vi nascer o sol nas margens do Degebe enquanto sugava cúpulas de bolota de azinheira

- Tomei o pequeno almoço às 5:30 da manhã numa aldeia perdida da Serra da Estrela, numa taberna onde não sabiam o que era uma meia de leite enquanto os meus clientes tomavam o mata - bicho.

- Perdi-me na Serra da Malcata num jipe com um pneu furado. Sozinha.

- Desci a barroca do teixo a correr sem botas de campo decentes


- Almocei à sombra de sobreiros e vi uma raposa passar ao largo

- Soube que os corços invadiram as pastagens numa aldeia do Sabugal e que os grifos voltaram.

- Mergulhei em cuecas numa charca depois de um dia quente passado aos saltos num jipe sem ar condicionado